31 de janeiro de 2008

Joe e a sua Visão

Joe Berardo declarou à revista Visão que «Já sabia das novidades há muito tempo...».
A Visão diz que Ana Jorge e José Pinto Ribeiro foram formalmente convidados entre segunda-feira à noite e terça-feira, de manhã. Acrescenta que se tratou de uma «acção relâmpago, apanhando de surpresa todo o Governo, concretizada em 12 horas»....

Apanhando de surpresa todo o Governo mas não Berardo que «já sabia».

Berardo estava no Canadá.
Sócrates em Portugal.

É certo que hoje, de Portugal ao Canadá e vice-versa, é um tirinho. Mas Sócrates fez melhor, em nome da despesa pública. Para não gastar dinheiro na viagem, no Natal, telefonou a Berardo e, para além de lhe desejar «Merry Christmas», aproveitou para lhe perguntar: «Joe, tava a pensar ir buscar aquele gajo que tens no Conselho de Administração da tua fundação para ministro....» - «de quê?» perguntou Berardo, «heeee, pode ser das Obras Públicas...espera, não!, da Cultura, antes...», respondeu Sócrates - «Quando?» quis saber Berardo - «depois de me irem cantar as janeiras a S. Bento...» - «Well, ok, fuck Pires de Lima, envia-se para mine mini-caixotinho...., take Joe Ribeiro!»

24 de janeiro de 2008

Como se explica uma política de saúde?

Se o país ferve, qual a estratégia adequada?

Se o país está adormecido, qual a estratégia adequada?

Se o país está politizado, qual a estratégia adequada?

Se o país está comprado, qual a estratégia adequada?

É de marketing que falamos?

De manipulação de OCS?

Qual a via?

A da contestação indignada face à exploração ignóbil?

O exasperamento?

A teimosia?

A persistência porque se acredita, convictamente, que se está certo?

Mandando inspectores para o terreno?

Convidando médicos para as comissões de análise e reflexão?

Porquê médicos?

Porque não cidadãos e médicos e intelectuais e sociólogos?

Sugiro o seguinte:
«A estratégia que desenhámos contém uma lógica. Não é fácil perceber a sua arquitectura. Mas, básicamente, o que se pretende é que o país tenha melhor saúde. O país são as pessoas. Os idosos. Os jovens. As crianças. As pessoas que todos os dias saem, de manhã, para o trabalho. Que se esforçam por tornar Portugal um país melhor. O que não é fácil, porque nos modernizamos devagarinho. Mas temos esperança. Não a mataremos nunca.

Para os idosos, queremos apoio, suporte a uma vida de trabalho: hospitais de cuidados continuados e paleativos. Funcionam mais à frente, depois de um internamento, depois do cuidado domiciliário não chegar.

Ainda não temos isto. Mas cada cidade, vila e aldeia do nosso país, precisa de apoio. Se na aldeia onde vive, restam muito poucos, o Centro de Saúde deve ter uma (nunca mais utilizarei a palavra «rede», estou sem «rede» para tal)...pessoa, uma enfermeira que vai a sua casa, ao domicílio, um médico que o(a) visita periódicamente. Neste caso, esta pequena equipa não se quedará pela sua casa. Tem uma lista. E é o seu trabalho, o seu emprego. Que meios utilizam e possuem, para comunicar, pedir apoio, socorro, transporte rápido de emergência para a urgência mais próxima, não lhe interessa. Importa é que tenham essa possibilidade. E que sinta que eles lhe batem à porta, que o visitam.

As ambulâncias que cobrem a emergência no país, não lhe interessa se são VMERs, SUBs, SIVs; também os automóveis tem SUVs, Vans, Pick-ups....Mas o país tem uma intensa cobertura de emergência médica. Tem que ter. Para explicar esse projecto, basta criar uma linha nova, de apelo em caso de emergência, amarela e azul e basta que a ambulância apareça em 15 minutos. Mais, não!

Depois, se decidimos pelas Unidades de Saúde Familiares, acabemos o projecto de implementação das Unidades no terreno. Demora. Mas não pode demorar tanto. O que falta? Médicos de clínica geral? De certeza? Será que o país não pode pagar mais a estes profissionais? Não é dinheiro mais bem investido do que escalas de urgência redundantes ou em especialidades onde pouco se justifica? Serão necessários assim tantos clínicos gerais? Quantos, ao certo? Enfermeiros não faltam, pois não? O truque é formar muitos para reduzir as hipóteses de escolha e ter que aceitar qualquer local do país? Não, é investir na formação a sério, que passa por explicar que Portugal é pequeno e tem litoral e interior. É ter Universidades no interior, sem complexos. É convidar ilustres médicos, engenheiros, físicos, gestores, economistas a ajudar a formação nesses locais. É não esquecer que as estradas, servem para criar acessibilidade, o comboio, constitui uma alternativa de transporte em qualquer país civilizado três vezes maior do que o nosso. É ter um interior aliciante sem esquecer que o nosso interior é sempre muito menos interior do que Madrid.

Se o turismo rural (com ou sem SPA) recolocou o interior na moda, porque não aproveitar a oportunidade para construir novas cidades? De ordenamento planeado, com uma vertente turística, cultural, educacional e de saúde. Com apostas de ambiente e vida saudável. Sem licenciamentos dispersos: custa a chegar lá a água, a luz, o gáz canalizado, a energia eólica. Mas também os cuidados de saúde. Então, não se autorize a construção dispersa. Não defendo a economia planificada (credo!), defendo antes o planeamento da economia do futuro. Com pensamento e reflexão. Às vezes sabe bem parar para pensar.

Mas há muito mais gente junto ao nosso mar. E temos algumas grandes cidades. À nossa escala. Os hospitais necessitam de ter muito apoio a montante. E muitas ligações. Um hospital deve estar, sempre, ligado a um ou vários Centros de Saúde (ou USF). As USF devem ver-se. Ter visibilidade não é um disparate, nem uma acção de marketing. Ter USF visíveis é uma simples estratégia como a de qualquer banco quando, da noite para a manhã do dia seguinte, com uma simples cosmética, mostra a um país inteiro, numa acção concertada, a abertura de dúzias de balcões. Não sabemos todos onde fica o BPI, o BES, a CGD? Qual é o complexo de ter algumas centenas de USF pelo país perfeitamente identificadas? Depois, vêm pequenos projectos de certificação das USF:

Que lista de doentes possui?
Para que hospitais drena?
Como drena?
Para que especialidades (estatística)?
Onde faz os exames, no hospital?
O que sabe deles, após a ida do doente ao hospital?
Foi internado, operado? Teve alta?
Voltará a mim?
Quanto tempo espera o Meu Doente (da minha lista da USF) no hospital A, por uma consulta, que eu referenciei? E no hospital B?
E se eu (médico) decidir optar pelo hospital B?
E se o hospital receber em função desta articulação?
E se a Agência de contratualização contratualizar x consultas por ano referênciadas?
E se os custos dos exames de diagnóstico forem partilhados?
E se houver incentivos para a gestão comum?

Depois vêm os internamentos, que se querem curtos, apoiados (muito, pelos familiares que motivam, ajudam, ficam mais baratos do que profissionais em excesso e muitas horas extraordinárias de parco apoio). O ambulatório forte, estruturado, gerido. Onde há software adequado para gerir o ambulatório?
Como contrato produtividade?
Sem contratualizar internamente, num hospital, com a devida informação de produtividade?
Sem ter autonomia de gestão?
Sem governança económica efectiva?
E com que governança clínica?

E que avaliação me interessa? É o processo administrativo ou o «To Err is Human»?

Vá lá, falemos claro!
As USF trabalham com estes e estes hospitais.
As consultas e os exames estão todas concentradas neste local, nestes hospitais.
Gerem-se assim, com estas regras, com este apoio de gestão.
As cirurgias, 60%, fazem-se aqui, num dia, sem complexos e rigidez de funcionamento, lá porque precisou de mais um dia no internamento.
O internamento trata doentes pesados. Os meios deslocam-se ao doente ou tudo é feito a pensar nele.
O discharge, tem que ter apoio. Venha a privada, as misericórdias, venham condomínios para os de mais posses, porque não, mais uma vez sem complexos. Mas que o apoio aconteça para todos.

E as ambulâncias, que cheguem às urgências certas! Por amor de Deus, demagogia feita à maneira, é como queijo numa ratoeira! Não obriguem as pessoas a andar às voltas, a perder tempo e, quem sabe, talvez a vida.»

Se não for assim, governar não vale a pena.

Ah! É verdade! O nosso governo não necessita de tantos ministérios. Está obsoleto, desactualizado, talvez isso seja necessário por causa do emprego público. É também uma avaliação a fazer. Séria. Mas, se calhar, vale a pena gastar mais no ambiente a sério (vai gerar emprego), na inovação (vai gerar emprego), na cultura (vai continuar a gerar emprego), na sociedade e nas pessoas (vale a pela ter um ministério que pense uma sociedade nova), nas novas culturas agrícolas, na defesa europeia (basta articulação, os submarinos não têm que ser nossos, navios parados no estaleiro). A partir daqui, a saúde e o emprego e solidariedade social, bastam para sermos felizes.

E, já agora, a feira das vaidades não deve regressar; o nosso parlamento não deve ser lugar de deliciosa retórica, antes de pensamento gratificante porque nos sentimos a chegar lá, um bocadinho, todos os dias.